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Entrevista com Paulo Vicente Alves, autor do livro Um Século em Quatro Atos: Uma projeção do século XXI

Entrevista concedida pelo autor Paulo Vicente Alves, a respeito do seu livro “Um Século em 4 Atos: Uma Projeção do século XXI“, próximo lançamento Alta Books.
1. A sua obra fala sobre os ciclos de Kondratieff, que seguem a teoria de que o mundo tem um comportamento cíclico principalmente quando o assunto é alternância de poder entre as nações.
Mesmo com a instabilidade das relações políticas atuais, é possível acreditar que esses ciclos podem nos nortear sobre o que está por vir? Ou o ciclo já está se mostrando seguro justamente porque prevê crises políticas exatamente como estas que estamos vivendo?
Nunca teremos certeza sobre o futuro, mas podemos fazer conjecturas acerca dele. Meu modelo pressupõe uma continuidade dos ciclos de Kondratieff, e dos ciclos hegemônicos. Na prática o que estamos assumindo ao fazer tal extrapolação são duas coisas:
a) O sistema de trocas global continuará existindo
b) Haverá um novo ciclo tecnológico
Hoje existem fortes evidências que suportam tais hipóteses, mas isto não garante que o modelo será verdadeiro. O que o modelo faz de melhor é levantar perguntas interessantes acerca do futuro baseado em uma estrutura lógica que é compatível com os últimos séculos de história.
2. No livro, o leitor perceberá que muitas nações que pareciam imbatíveis em suas épocas, perderam o protagonismo político devido a crises e guerras. O senhor acha que os Estados Unidos já estão perdendo o protagonismo político?
Ainda não, os EUA ainda são o país mais forte militarmente, mais avançado tecnologicamente, e o que mais investe em Ciência do mundo.O que está ocorrendo é que a distância para outras potências está diminuindo e a interdependência entre as nações está aumentando.
Desta forma os EUA deixam de ser uma superpotência isolada, e passam a ter que conviver com outras potências, ainda que isoladamente elas não sejam tão fortes quanto os EUA. Começa a surgir um maior nível de competição, mas por outro lado, maior pressão evolutiva.
3. O senhor traça uma perspectiva muito boa que pontua maior protagonismo mundial para o Brasil em suas predições, o senhor mantém essa opinião olhando para o Brasil atual, com suas crises políticas?
Sim, o Brasil que desenho para o final do século é de longo prazo. As crises de curto e médio prazos na verdade são preparações para o sistema brasileiro se reinventar.
De certa forma o Brasil ainda está numa transição entre o feudalismo e um capitalismo com instituições fortes. Só que esta transformação leva cerca de dois séculos para se completar. Se imaginarmos que o início do processo começou com a Guerra da Tríplice Aliança onde o Império foi obrigado a libertar os escravos e importar uma classe média, pondo fim assim ao Feudalismo, podemos então esperar que o processo se complete por volta de 2065.
O Brasil tem na minha percepção três difíceis tarefas, mas elas dependem somente de nós: Criar instituições fortes, Investir em Educação e Ciência, integrar-se mais ao sistema global de trocas.
4. O senhor acredita que o modelo capitalista está entrando em colapso?
Depende de como você define capitalismo. Se capitalismo for definido como um sistema de acumulação, ou um sistema de produção, trocas, e estoques, então ele continua muito bem e deve ficar ainda mais forte no futuro.
Se você, entretanto, definir capitalismo de uma forma mais restrita ao nosso capitalismo atual baseado em petróleo, aí sim ele está no final.
Este capitalismo vai morrer e um novo capitalismo vai surgir, mas ele será baseado nas novas tecnologias que estão emergindo.
5. Pode dar uma prévia sobre as predições tecnológicas do livro? Essa parte é realmente muito intrigante!
Sim, quando mapeamos os investimentos de longo prazo em pesquisa e desenvolvimento, e analisamos para onde a pesquisa militar está levando o mundo, percebemos três grandes eixos:
a) Robótica e Inteligência Artificial
b) Tecnologias da Melhoria Humana
c) Novas fontes de Energia e Materiais
A Robótica e a Inteligência Artificial levadas ao extremo mudarão a forma de produzir bens e serviços, e criarão uma nova casta de “escravos”. Hoje usamos os termos indústria 4.0, e transformação digital, mas isto é só o começo do que vem por aí.
Tecnologias como Impressoras 3D, exoesqueletos, comunicação quântica, computação quântica, realidade virtual, cidades inteligentes, Inteligência Artificial fraca e forte, interface cérebro-computador, e inteligência híbrida de homem e máquina modificarão não só os processos organizacionais, mas também as cadeias de valor da economia.
Somando-se a isto as tecnologias de melhoria humana, isto é, nanotecnologia, biotecnologia, edição genética, medicina avançada, e biônica, os seres humanos podem descobrir a cura de muitas doenças e problemas, melhorando assim a qualidade de vida. Tudo isto pode levar a expectativa de vida humana e ser expandida para 120 anos, ou até mesmo 200 anos.
O que forçará os limites da ética humana e nos levará a dilemas que hoje só existem na ficção científica. O modelo de ciclos aponta que cada revolução tecnológica, gerou uma revolução social e cultural, que por sua vez, gerou uma revolução econômica.
Novas fontes de energia, tais como a solar, reduzirão em muito os custos energéticos. A busca de recursos minerais e energéticos no espaço, mais especificamente no sistema solar interior, posibilitarão uma nova fronteira e uma nova economia.
No final do século o sistema global de trocas terá dado lugar a um sistema solarizado de trocas, onde a relação centro–periferia se dará entre o sistema Terra-Lua e suas colônias no sistema solar interior.