Prefácio à revelia
Dar-se-ão mais valor às palavras de médicos e pensadores sobre o assunto em que a presente obra se dedica, mas a pureza de um olhar menos viciado, e nem por isso menos vaidoso, com o entusiasmo argumentativo de um diletante, mesmo apresentado certas incoerências, tornam sempre mais claras aos leigos.
Este livro se propõe ser um panorama do hipnotismo até as primeiras décadas do século XX. Mas se torna também um belo libelo em sua defesa. Medeiros e Albuquerque nos apresenta seus principais nomes, sejam eles defensores ou detratores (estes últimos sempre compelidos na pena do entusiástico autor de defesa) e um pouco das principais técnicas, benefícios possíveis e orientações éticas e normativas de um modo geral.
O texto, que nasceu junto aos primórdios da psiquiatria, está sob a responsabilidade de um escritor ficcional de renome que busca na leveza de sua narrativa, neste caso mais para dissertativa, a atenção do leitor, o que contribui para a agilidade e a agradabilidade desta leitura e na clareza de suas explicações.
Vale somente destacar as passagens datadas e deterministas de uma psicanálise, grande usuária do mesmo princípio de sugestão que a hipnose, ainda em seus estertores; mas mesmo passagens datadas, tratadas de forma loquaz e pouco realista para os dias de hoje, são curiosas e valem a pena serem lidas e analisadas de forma discricionárias e contextualizadas.
Não vejo preconceito nestas passagens quanto a obesidade, a histeria e a sugestionabilidade maior das mulheres e a homossexualidade como um neurose, e como, nem de longe, se trata do tema principal do livro, mas sim tópicos do capítulo final, as mantive nesta edição, somente uma simplificação que, se me permitem, no mundo contemporâneo, onde um milhão de fatores tomaram assento nas discussões sobre estes temas.
A revisão do livro se permitiu deixar alguns traços do português da época em que foi escrito, bem como do estilo em que muitas vezes textos em francês não vem acompanhados de tradução. Assim os mantive, como são sempre perolações, aos interessados não francófonos restam os dicionários.