George, João Pedro (Autor)
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À primeira vista, tudo neste livro é delirante e estapafúrdio (mas lido com calma parece ainda mais estapafúrdio). Não só está desligado da realidade, como largamente a ultrapassa, não respeitando regras, nem princípios, nem protocolos.
Literariamente, não tem ponta por onde se lhe pegue. Desenvolve teorias sobre os mais desvariados assuntos, que em nada honram a memória da família do autor. Comete toda a espécie de confusões, que deveriam motivar a consulta de um especialista. Baralha as coisas todas e perde-se em complexidades inúteis, que se contradizem e não querem dizer nada. Fala do que não sabe com grande autoridade e conhecimento de causa, para parecer profundo e indispensável.
Viajar na Maionese é uma barafunda pegada. É um livro desnorteado e desnorteador, que passou para o outro lado, para uma dimensão à parte. Um livro que fascina e provoca espanto. Que seduz e não cessa de surpreender. Que mete tudo no mesmo saco e resvala para o absurdo, não nos poupando a nenhum devaneio literário de péssimo gosto.
Aparentemente, verdadeiramente, este é o livro do verdadeiramente aparente. A cada página, a cada frase, a cada vírgula, há algo que nos aterroriza e nos atrai. Nele, a lógica consiste em não ter lógica. Nele, o leitor concorda com coisas com que normalmente não concordaria.
Viajar na Maionese tem uma espécie de existência própria. Os efeitos da sua leitura duram muito, muito mais do que gostaríamos.
Dividido em capítulos sucessivos, Viajar na Maionese é um dos pontos baixos da carreira do autor e um acidente na história da edição portuguesa.
Até aqui, os escritores escolhiam os textos que davam a melhor ideia de si e do seu trabalho. George fez às avessas: escolheu justamente os que deixam dele a pior impressão.
Grandiloquente e ridículo, Viajar na Maionese é um livro como não se faz lá fora. É um documento essencial que vai ao fundo da questão, que corre o risco de ser apreendido pelas autoridades e que, por isso, deve ser escondido na parte de cima das estantes. A tese deste livro, se há tese, é que nada é bem assim.