Autor(es): Olavo Bilac
Neste livro procuro (vaidade das vaidades!) dar mais um pouco de duração à vida efêmera dos trechos da minha ironia e da minha piedade, atirados dia a dia à agitação do trabalho do jornalismo.
Quanta tristeza e quanta esperança, quanto sonho vago, quanta palavra alegre ou magoada, quanta ironia mal contida e quanta piedade sincera deixei por aí, na contínua contradição da vida, neste labor diário que se desfaz e desaparece mais facilmente do que as pegadas de um caminhante sobre a neve!
Só Deus sabe, porém, se tudo isso se perdeu. Talvez ainda hoje possa alguém encontrar um pouco de consolo ou de saudade nestas linhas, em que ardeu e sorriu, palpitou e sofreu a minha fantasia…
Quase todas estas páginas foram publicadas na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro. Dedico-as hoje, em volume, à memória de Ferreira de Araújo, meu mestre e meu amigo.
Escrevendo este nome, revivo muitos anos da minha mocidade.
Este nome e estas velhas laudas vêm lembrar-me o tempo em que, desconhecido e feliz, com o cérebro e o coração cheios de esperanças e de versos, eu parava muitas vezes, naquela feia esquina da travessa do Ouvidor, e quedava a namorar, com olhos gulosos, as duas portas estreitas da velha Gazeta, que, para a minha ambição literária, eram as duas portas de ouro da fama e da glória.
Eu, por mim, acho saudade e consolo em reviver os meus velhos dias. Não sei se sou hoje mais feliz ou mais infeliz do que antigamente, naquele tempo da minha adolescência, quando, com o cérebro e o coração cheio de esperanças e de versos, eu namorava a Gazeta.
Nunca sabemos quando somos felizes ou infelizes. E a felicidade não é gênero de absoluta e imediata necessidade… O essencial é viver, pensar, trabalhar e amar, com ou sem brilho, mas sempre com resignação, “en attendant bien doulcement la mort”, como dizia o velho Montaigne.
Também dos dias tristes temos saudades, e a saudade é sempre um consolo.